Friday, February 24, 2012

Falência do Capitalismo?


"Capitalismo" é um sistema econômico em que o capital de propriedade privada é investido, negociado e no qual os seus donos julgam a melhor forma de usá-lo.

Como comparação, a ex Primeira Ministra do Reino Unido, Margaret Thatcher teria dito que o problema do Socialismo é que, "certamente, acaba-se esgotando com o dinheiro dos outros", numa referência à ineficiência do Estado em gerir empresas e todos principais setores econômicos.

Tal comentário me alertou que não é o capitalismo, mas um modelo econômico deturpado  permitam-me qualificá-lo como “semi socialista - que tem causado crises recentes e que precisa ser reformado.

“Semi socialista não no contexto acima referido do setor público controlando e gerindo grandes empresas. E nem tanto pelas intervenções governamentais com dinheiro dos contribuintes para salvar os grandes bancos e corporações em 2008 e agora, com a enxurrada de liquidez para os bancos europeus.

Mas no sentido de um modelo econômico onde os detentores do capital, aqueles que financiam o sistema e têm seu patrimônio em risco sejam acionistas, depositantes ou investidores - estão afastados demais do controle de suas empresas ou investimentos financeiros. E onde, como nos regimes socialistas, uma "elite" está gerindo de forma desastrosa o dinheiro dos outros (e da sociedade em geral)!

Nas corporações, por exemplo, os donos do capital têm delegado seu patrimônio para gestores de ativos financeiros (fundos de investimento, de pensão, etc), que por sua vez delegam para conselhos de administração - quase sem representação dos quotistas - e para executivos. Estes têm seus próprios interesses, muito a ganhar com o sucesso advindo de grandes riscos e desproprocionalmente menos a perder com o fracasso.

A estrutura de controle e delegação na gestão de ativos no sistema bancário é bem similar. Para piorar, num ambiente de baixíssima transparência e divulgacão de riscos. As consequências têm sido dramáticas.

A crise demonstrou que o livre mercado não é eficiente? Isto já se sabe desde os primórdios do capitalismo, quando a sociedade entendeu que era necessário estabelecer limites à ambição humana, por exemplo, através de direitos trabalhistas fundamentais ou dos sistemas antitrustes.
  
O ajuste necessário não é abolir o capitalismo, mas incentivos à gestão responsável do capital e melhor governança, com visibilidade e controle dos riscos que gestores e executivos estão incorrendo com o patrimônio alheio - inclusive com sistemas de remuneração apropriados.

O papel do governo neste campo é de regulamentação mínima, mas com limites rígidos para evitar riscos sistêmicos, particularmente no sistema financeiro, preservação da livre competição, proteção do meio ambiente e condições de trabalho humanas, num regime de transparência de informações, liberdade de mídia e de expressão popular.

E um sistema legislativo e judiciário que penalize, inclusive criminalmente, gestores que não divulguem apropriadamente os riscos, que desrespeitem seus limites de autonomia ou que falhem em suas responsabilidades fiduciárias.

O capitalismo precisa de certa regulamentação. Mas nas suas origens, em que o empreendedor, motivado pela perspectiva de lucro, usa seu capital e o de outros sócios para inovar e construir um produto que gere valor para a sociedade, é ainda o melhor modelo econômico conhecido.

Saturday, February 18, 2012

O Mundo está num beco sem saída?


A humanidade está diante de desafios quase insuperáveis e há tanta falta de confiança nos nossos governantes, que o mundo parece ter-se deparado com um beco sem saída.

Estamos enfrentando problemas socioeconômicos graves (vide o artigo “a sociedade precisa de mais empreendedores”). Debate-se sobre a necessidade de um novo modelo econômico e até sobre a falência do capitalismo.

Os governos têm sido incapazes de resolver tais questões. Pelo contrário, têm sido corresponsáveis pelas crises recentes. Os interesses políticos estão acima dos anseios das populações, que se manifestam nos quatro cantos do mundo. Inexistem lideranças com apoio popular, nem parece haver vontade política para efetuar as reformas necessárias.

Países desenvolvidos passam por uma estagnação, em meio aos níveis insustentáveis de endividamento dos governos e dos indivíduos. Não há consenso se a solução é estimular o consumo para gerar crescimento, ou promover austeridade para reduzir a dívida.

Mantém-se a falta de transparência e o risco sistêmico do mercado financeiro. Até agora a solução tem sido “garantir crédito sem limites” aos bancos, sem se endereçar seriamente a regulamentação e as restrições necessárias.

Evita-se discutir sobre a falta de recursos para pagar a conta da saúde e seguridade social de uma crescente maioria idosa, uma crise com data e hora para acontecer em grande número de países, mesmo alguns com menor endividamento.

O consumo crescente das sociedades emergentes, somado ao das grandes economias, empurra nosso planeta para seus limites ecológico e energético, causando poluição, aquecimento global, escassez de água doce e de outros recursos naturais, com consequências não apenas econômicas, mas para nossas vidas e saúde.

Energia competindo com alimentos, aumentando o custo destes e contribuindo para a fome no mundo. Ou criando riscos ambientais inadmissíveis na extração de petróleo e na geração de energia nuclear, cujos custos de danos potenciais não são cobrados dos produtores ou consumidores (o impacto econômico do vazamento de óleo no Golfo do México foi estimado em US$ 15 bilhões, de acordo com um estudo do Canadian Journal of Aquatic Sciences).

A crescente concentração de riqueza nas grandes economias ocidentais aumenta a insatisfação social - na crise de 2008, enquanto executivos financeiros ainda ganhavam seus altos salários e bônus, a classe média perdia suas casas, empregos e até suas aposentadorias.

Nas nossas democracias, a população se incomoda com o alto índice de corrupção nos governos de países emergentes ou com a influência do lobby dos oligopólios, empresas de petróleo, grandes bancos e outras corporações sobre os congressos, tornando ineficiente o sistema político mesmo nas democracias mais estáveis.

No oriente médio e norte da África algumas ditaduras caem, mas incertezas e tensões políticas se acentuam. E o risco de bomba nuclear volta às manchetes.

"Onde estão nossos governos? Queremos Mudanças!" - Manifestações populares, tipo “Occupy Wall Street” ou a chamada Primavera Árabe, se espalham.

Como superar este beco sem saída? Como dito acima, não há soluções claras nem sistema político com credibilidade e sustentação popular para definir e implantar mudanças de impacto, que se tornam imperativas.

Mas não é o apocalipse. As crises econômicas, diferenças sociais, guerras e maus governos são constantes em nossa história. Às vezes, a fadiga e ruptura são necessárias para renovações acontecerem. E existe muito valor sendo gerado no modelo atual.

Voltarei a esses temas em próximos artigos.