"Capitalismo" é um sistema econômico em que o capital de propriedade
privada é
investido, negociado e no qual os seus donos julgam a melhor forma de usá-lo.
Como comparação, a
ex Primeira Ministra do Reino Unido, Margaret Thatcher teria dito que o
problema do Socialismo é que, "certamente, acaba-se esgotando com o dinheiro
dos outros", numa referência à ineficiência do Estado em gerir empresas e todos principais setores
econômicos.
Tal comentário me
alertou que não é o capitalismo, mas um modelo econômico deturpado – permitam-me qualificá-lo como “semi socialista” - que tem causado crises recentes e que
precisa ser reformado.
“Semi socialista” não no contexto acima referido do setor público controlando
e gerindo grandes empresas. E nem tanto pelas intervenções governamentais com dinheiro dos contribuintes para
salvar os grandes bancos e corporações em 2008 e agora, com a enxurrada de liquidez para os
bancos europeus.
Mas no sentido de um modelo
econômico onde os detentores do capital, aqueles que financiam o sistema e têm seu patrimônio em risco – sejam acionistas, depositantes ou investidores
- estão afastados demais do controle de suas empresas ou
investimentos financeiros. E onde, como nos regimes socialistas, uma "elite" está gerindo de forma desastrosa o dinheiro dos outros (e da sociedade em geral)!
Nas corporações,
por exemplo, os donos do capital têm delegado seu patrimônio para gestores de ativos
financeiros (fundos de investimento, de pensão, etc), que por sua vez
delegam para conselhos de administração - quase sem representação dos quotistas - e para
executivos. Estes têm seus próprios interesses, muito a ganhar com o sucesso advindo de grandes riscos e desproprocionalmente
menos a perder com o fracasso.
A estrutura de controle e delegação na
gestão de ativos no sistema bancário é bem similar. Para piorar,
num ambiente de baixíssima transparência e divulgacão de riscos. As consequências têm sido dramáticas.
A crise demonstrou que o
livre mercado não é eficiente? Isto já se sabe desde os primórdios do capitalismo,
quando a sociedade entendeu que era necessário estabelecer limites à ambição
humana, por exemplo, através de direitos trabalhistas fundamentais ou dos sistemas
antitrustes.
O ajuste necessário não é abolir o capitalismo, mas incentivos
à gestão responsável do capital e melhor governança, com visibilidade e controle
dos riscos que gestores e executivos estão incorrendo com o patrimônio alheio -
inclusive com sistemas de remuneração apropriados.
O papel do governo neste
campo é de regulamentação mínima, mas com limites rígidos para evitar riscos
sistêmicos, particularmente no sistema financeiro, preservação da
livre competição, proteção do meio ambiente e condições de trabalho humanas, num
regime de transparência de informações, liberdade de mídia e de expressão
popular.
E um sistema legislativo e judiciário que
penalize, inclusive criminalmente, gestores que não divulguem apropriadamente
os riscos, que desrespeitem seus limites de autonomia ou que falhem em suas responsabilidades
fiduciárias.
O capitalismo precisa de certa regulamentação. Mas nas
suas origens, em que o empreendedor, motivado pela perspectiva de lucro, usa
seu capital e o de outros sócios para inovar e construir um produto que gere
valor para a sociedade, é ainda o melhor modelo econômico conhecido.